O NORDESTE NO CAMINHO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

11/01/2022

Com o meio ambiente à beira de um colapso, o planeta exige uma mudança rápida de paradigmas, a começar pela transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis e o Nordeste pode liderar a produção nacional de alternativas energéticas e ser a chave para a difusão de um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.

O Brasil possui uma situação privilegiada em termos de recursos renováveis, o que pode proporcionar ao país uma posição de destaque nesta transição para uma economia de baixo carbono e posicioná-lo como um dos países com maior atratividade para investimentos internacionais. Apesar disso, a instabilidade política que o país está vivenciando tem impactado negativamente o setor. 

A região Semiárida brasileira concentra a maior capacidade instalada de usinas eólicas e deverá ser responsável no futuro pelo maior potencial de geração solar fotovoltaica centralizada. Esse grande potencial, associado ao aumento dos sistemas de transmissão, possibilita a expansão das fontes renováveis na região para atender muito além da demanda local.

Portanto, o Semiárido pode se tornar um “hub” para o desenvolvimento da economia de baixo carbono nacional, com eficiência e transferência dos benefícios para o setor produtivo e para a sociedade em geral. E, na medida que se eleva a produção de energias renováveis, o Nordeste pode se colocar como um player de destaque na cadeia do hidrogênio verde, fundamental para a descarbonização de setores de difícil eletrificação e que será um grande vetor de investimentos nas próximas décadas.

Segundo o CBIE Advisory, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de países que produzem energias renováveis, com 135.674 MW de capacidade instalada, uma matriz energética de 48,3% renovável. Até 2018, a participação era de 45%, quando a média mundial era de apenas 14%, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). 

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca a vantagem da matriz energética nacional diante dos demais países que compõem com o Brasil o bloco dos Brics. As fontes de energia fósseis chegam a 97% na matriz energética da África do Sul, 94% na Rússia, 92% na Índia e 87% na China.

Já a matriz elétrica brasileira conta com 82,7% de participação de fontes renováveis, segundo a Aneel. As usinas hidrelétricas têm a maior participação, correspondendo a 60% da matriz elétrica do país. Em seguida, já aparecem as eólicas com quase 11%, o gás natural com 9%, biomassa (8,63%), petróleo e outros não renováveis (5,11%), solar (2,48%), carvão mineral (1,9%) e nuclear. 

Perfil das renováveis da região semiárida 

Os estados da região Semiárida possuem os maiores potenciais para energias renováveis do Brasil. A matriz elétrica existente da região hoje é 20% fóssil. Em relação às fontes renováveis, a participação das renováveis variável é de 32% (4,8% de solar e 26,6% de eólica onshore); da fonte hidrelétrica, 43% e biomassa, 6%, como mostra o gráfico a seguir: 

Figura 4: Matriz elétrica na região semiárida

Os grandes destaques em termos de projetos renováveis existentes são os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Piauí, com parcela renovável de 91,6%, 91,8%, 95% e 98%, respectivamente. A Bahia possui 44% de hidrelétrica e 37% eólica, o Rio Grande do Norte, 88% eólica onshore, Minas Gerais, 81% hidrelétrica e o Piauí, 42% hidrelétrico e 38,3% eólico.  Os gráficos da figura abaixo mostram o mix de cada um desses estados.  

A energia eólica contribui com a matriz elétrica brasileira com cerca de 11% de geração de energia e é capaz de abastecer 28,8 milhões de residências no mês, beneficiando 86,3 milhões de pessoas. O Nordeste concentra 85% dos parques eólicos do país com 564 usinas, sendo que a Bahia é a maior produtora da região com 178 parques, seguida pelo Rio Grande do Norte com 169. Conforme dados da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), atualmente o Brasil tem uma capacidade instalada de 17 gigawatts e mais de oito mil aerogeradores em operação distribuídos em 12 estados da federação. 

Em julho, foram quatro recordes de geração eólica média e quatro de geração instantânea (pico). Segundo o Ministério de Minas e Energia, em um único dia, a média inédita chegou a 11.399 MW, suficiente para abastecer a 102% da região Nordeste durante 24 horas.

Já a energia solar, segundo os dados do ONS, representa 2% da matriz elétrica do país. Nos últimos três anos, o crescimento da energia solar centralizada (gerada por grandes usinas) foi de 200%, enquanto que a solar distribuída (pequenas centrais de geração) passou de 2.000%. Segundo o Ministério de Minas e Energia, só em 2020, a capacidade instalada em energia solar fotovoltaica cresceu 66% no país. 

Geração de empregos verdes

De acordo com os estudos da GIZ (2020 e 2021), as cadeias produtivas eólica e solar têm um grande potencial multiplicador para a criação de novos postos de trabalho. Os parques eólicos on-shore devem criar cerca de 15 empregos, por ano, a cada MW instalado, podendo chegar, em 2038, a uma criação acumulada de empregos diretos e indiretos que ultrapasse um milhão de postos de trabalho, enquanto o setor solar poderá alcançar cerca de 30 novos postos por ano por MW instalado. A participação feminina é da ordem de 20% no setor eólico e em torno de 32% no setor solar.

No setor eólico, o Nordeste deve se manter como a principal região geradora de empregos. Em 2038, a região deverá gerar 39 mil empregos diretos no setor eólico, enquanto o total do Brasil deverá ser de 47,4 mil. No setor solar, a expectativa é de que sejam criados mais de 500 mil postos de trabalho ao longo das próximas duas décadas no Nordeste.

Diante deste cenário – que pede urgência na descarbonização do planeta -, precisamos reforçar a necessidade de se pensar soluções e políticas interligadas que conectem a expansão de fontes renováveis dentro de diretrizes de desenvolvimento sustentável, combatendo as desigualdades sociais, reduzindo drasticamente o desmatamento e investindo na Economia da Regeneração do Meio Ambiente.